Recentemente recebi em meu consultório virtual um paciente com a seguinte queixa: “Estou me acabando diariamente na pornografia e preciso de ajuda!”.
Com o passar das sessões ele me confidenciou que recorria a pornografia para fugir do tédio. O que a princípio era apenas para se distrair passou a virar um vício e ele ficava horas em sites pornô.
O uso de pornografia é considerado problemático quando acarreta consequências negativas em diversas áreas da vida, como trabalho, escola e relacionamentos pessoais, e torna-se difícil de controlar. O consumo de pornografia tem aumentado nos últimos anos, conforme a propagação e a facilidade para se consumir esse tipo de conteúdo.
A pornografia existe há milênios e hoje continua amplamente disponível em livros, revistas, gravações de áudio e com o auxílio de novas tecnologias, como internet, smartphones e tablets, o consumidor de pornografia está a um click do material desejado e pode consumi-lo a qualquer hora e lugar.
Essa facilidade alavancou o consumo de pornografia e vem atingindo números inimagináveis. O Pornhub, o maior site de conteúdo pornográfico da internet, recebe por ano mais de 35 bilhões de visitas. Muitas pessoas acessando, não é mesmo?
Só para se ter uma ideia da dimensão do consumo de pornografia, o Pornhub tem mais acessos mensais do que a Netflix, Amazon e Twitter juntos.
Ainda que a ciência esteja nas pesquisas iniciais sobre as consequências psicológicas do consumo de pornografia, já se sabe que há sérias consequências neurológicas para o consumidor assíduo. A saúde mental e a atividade sexual desta ampla audiência estão sofrendo com os efeitos negativos que este consumo traz à vida real.
Neste artigo elencaremos algumas das consequências psicológicas do consumo de pornografia.
Paralelos entre o consumo de pornografia e o abuso de substância
Cada vez que o cérebro responde à estimulação sexual, ele libera a dopamina, um neurotransmissor associado à antecipação de recompensas. Isso significa que quando o corpo anseia por sexo, o cérebro recorda o que deve fazer para obter o mesmo prazer que obteve em ocasiões anteriores.
Deste modo, o consumidor habitual de pornografia deixa de procurar seu parceiro para obter uma gratificação sexual, optando por recorrer a algum dispositivo eletrônico, como o seu celular ou computador, sempre que sente desejo sexual.
As consequências psicológicas do consumo de pornografia
São muitas as consequências psicológicas advindas do consumo de pornografia, entre elas a dessensibilização do circuito de recompensa que, impulsiona o desenvolvimento de disfunções sexuais. Estudos mostram que usuários compulsivos consomem cada vez mais conteúdos pornográficos, ainda que não gostem tanto do que veem. Uma característica típica da desregulação do circuito de recompensa.
A seguir, listamos as principais consequências psicológicas do consumo de pornografia:
- Abalo na saúde mental – o consumo de pornografia contínuo induz ao isolamento psicológico, ou seja, motiva o indivíduo consumidor a se afastar psicologicamente das pessoas mais próximas. Também leva a perda da empatia pelas outras pessoas, o que resulta na objetificação sexual, que é quando se passa a enxergar os possíveis parceiros sexuais como meros objetos.
- Alteração na plasticidade cerebral – o consumo de pornografia intensifica a plasticidade, a capacidade do cérebro de se adaptar a novas situações, tornando o indivíduo consumidor vulnerável a efeitos hiperestimulantes.
- Depressão e ansiedade – as alterações na transmissão da dopamina contribuem para o surgimento de sintomas depressivos e de ansiedade.
- Disfunções sexuais – o consumo contínuo de pornografia provoca várias disfunções sexuais, dentre elas a disfunção erétil, que é a incapacidade de conseguir uma ereção, ou a disfunção orgásmica, como a incapacidade para alcançar o orgasmo ao manter relações com outra pessoa.
- Abalo na qualidade de vida – o consumo de pornografia ocasiona queda na performance escolar, no rendimento do trabalho, e ainda diminui a libido e o interesse no parceiro, afetando assim, o grau de satisfação com a relação e o compromisso, causando uma desconexão entre o casal que, certamente, levará os parceiros ao ressentimento mútuo. Causa também cansaço, dificuldade em se concentrar e irritabilidade exacerbada.
Tudo leva a crer que o consumo de pornografia contínuo pode modificar o comportamento de várias maneiras, inclusive afetar áreas da vida privada, social, acadêmica e de trabalho.
Vale lembrar que a psicologia é um método seguro, que consegue ajudar os indivíduos a lidar com os mais variados sentimentos conflituosos que costumam acompanhar o consumo de pornografia.
A terapia envolve um profissional altamente capacitado para auxiliar em todas as demandas da situação e uma atmosfera de confidencialidade, que propicia ao paciente a segurança necessária para revelar os seus anseios mais profundos.